Paixão doentia

Quando a convicção delirante da relação amorosa parece tão real, o comportamento de fixação amorosa é perigoso e precisa de ajuda profissional.

Segundo o psiquiatra francês De Clèrambault, comentou sobre o problema de relacionamento, como uma síndrome de emoções doentias que passa pelos estágios de esperança, despeito e rancor. A fase de rancor seria a mais importante delas. Após sofrer diversos sinais de rejeição, a pessoa busca se vingar de seu amor, podendo transferir suas retaliações para terceiros.

Pessoas que alimentam esse tipo de fantasia são reservadas, socialmente inexpressivas; solitárias, muitas são privadas de contato sexual por anos, a maioria ocupa cargos subalternos, e, em muitos casos, são pouco atraentes. Esse perfil pode resultar numa personalidade hipersensível, em desconfiança acentuada ou assumida superioridade em relação aos outros.

Por outro lado, o amor delirante (na realidade ou em fantasia), são sempre superiores em inteligência, posição social, aparência física, autoridade ou uma combinação dessas qualidades. Quase sempre o amor doentio pode ser visto como um meio de proteger o sujeito que o sente contra um profundo e doloroso estado de solidão.

Embora atos físicos ou sexuais sejam incomuns, essas pessoas podem trazer grandes conturbações às suas vítimas. O inconveniente varia de chamadas telefônicas no meio da noite a declarações de amor em ambientes públicos. A pessoa pode desejar ter relações sexuais com seu amor delirante. Os homens tendem mais à perseguição do que as mulheres.

Há casos em que o amor fantasioso se desenvolve a partir de um único e específico incidente – o que já é suficiente para que a pessoa se convença do amor que sente. Alimenta-se a crença de que ele iniciou o caso de amor a partir de olhares, mensagens cifradas, mensagens de jornal, de televisão ou até mesmo telepáticas.

A pessoa pode até rejeitar o seu amor, porém, o aceita e se apaixona por ele de maneira obsessiva. A despeito de vigorosas negações da outra pessoa, a fantasia de estar sendo amado persiste por anos, havendo necessidade de hospitalizações ou de ações legais que impeçam a perseguição da vítima pelo paciente. Existe um potencial para comportamento violento e vingativo.

As causas podem variar. Déficits no funcionamento da visão espacial ou lesões no sistema límbico, particularmente nos lobos temporais, em combinação com experiências amorosas ambivalentes e de isolamento afetivo, poderiam contribuir com as interpretações delirantes. E a falta de flexibilidade cognitiva faria com que esses delírios persistissem.

A integridade dessas funções é crítica para o reconhecimento das interpretações delirantes, que ocorrem, com maior probabilidade, em pacientes privados de relacionamentos íntimos, porém, altamente motivados a tais experiências. Esse desejo por relacionamento pode ser contrabalançado por temores de rejeição e de intimidade.

Fonte: Revista Psique Ciência & Vida Ed. 128 – Roberta de Medeiros

Postado por: Dra. Ana Cláudia Foelkel Simões

Psicóloga e Terapeuta

(11) 97273-3448

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